Persistência da memória, Salvador Dalí
Vivemos numa eterna queda de braço com o Tempo, não obstante ser uma luta completamente desigual e bipolar, ora queremos suas benesses, ora queremos defenestra-lo, configurando assim o grande paradoxo da modernidade.
Reclamamos, cheios de empáfia, da velocidade do mesmo e que nós, sombras de arquitetos do universo, precisamos de mais e mais fluidos segundos para podermos realizar banais atividades. Neste momento a 4ª dimensão está contra nós, não rendendo suficientemente para exaurirmo-nos em tarefas rotineiras. O Tempo não valora o que fazemos, apenas passa, docemente.
Em outros momentos demora a passar, como em câmera lenta, cada pingo que cai do ponteiro martela nossa paciência, aumentando exponencialmente a ansiedade. E que culpa tem o Tempo de ser assim? Ele é um Deus onipotente, do alto de sua divindade observa tudo que passou, o presente e o porvir. Nesse momento tenho certeza que ele ri da gente, de como somos ingênuos, desprezando qualquer torcida ou desejo para que ele seja mais rápido. O senhor Tempo não tem humores e nem dissabores, apenas se curva em poucos momentos eternos aos buracos negros, mas nada de relatividade aqui, apenas uma boa torrente de ideias mundanas.
Nossa passagem terrena está delimitada de forma tão curta, de forma tão ínfima, que para o Tempo não passamos de microorganismos abjetos. Costumo ver tantos e tantos contando dias, horas, minutos, para aquela viagem, aquele carnaval e até mesmo para a morte. Quem vai compreender os devaneios humanos? Prefiro não contar meu tempo, tento ser amigo dele, uma parceria que daqui a pouco vai ser desfeita. Contar os segundos é esquecer que a qualquer momento aquele segundo pode ser o derradeiro. Não tenho essa cegueira, já superei a fase que acreditamos ser imortais.
Um aforismo num muro até hoje incomoda minha existência: “Quem chora o tempo, eterna perda chora”. E uma música me acalma ao pensar sobre o tempo.
Pato Fu – Sobre o tempo
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